Consumidor é conscientizado a valorizar trabalho realizado em campo



Plantar respeitando os ciclos da natureza e devolvendo ao solo parte do que ele produz. Baseado nessa lógica, a técnica da sintropia instiga produtores rurais e consumidores a repensarem a sua relação com o ambiente.

Foi de fora do país que a arquiteta Ana Livi e o administrador Mauro Weber Rosito trouxeram a vontade de dedicar-se à terra. Fundadores do sítio Arvor(e)Ser e do clube orgânico Horta Alegre, viabilizam o cultivo sintrópico de alimentos com a cultura de relacionamento com os consumidores – a Community Supported Agriculture (CSA). Após viajarem por países da África e da Ásia, fincaram raízes na propriedade da família no bairro Aberta dos Morros, zona rururbana (ocupação urbana mesclada com produção primária) da Capital, e lá vivem da agroecologia.

Aos poucos, aplicam o que aprenderam e, por meio de cursos de eco alfabetização, ensinam outras pessoas. Foi lá que Namastê Messerschimidt compartilhou seus conhecimentos durante aula para estudantes e agricultores do Estado, no final de julho. E é lá também que eles tentam reinventar a agricultura para criar a filha Ananda, 10 meses, e experienciar um estilo de vida mais natural.

– Não abrimos mão da tecnologia, mas vivemos no campo, onde é possível fazer essa reconexão pelo alimento. Queremos mudar a cara do consumo na cidade, e mostrar que esse estilo de vida é possível – disse Ana, durante palestra no festival de inovação Black Sheep Project.

Eles já começaram a colher os frutos. Criada há nove meses, a iniciativa tem 30 associados, para quem realizam entregas de cestas semanais em cinco diferentes pontos da cidade. Atualmente, os kits incluem hortaliças, temperos, frutas da estação e flores comestíveis. Tudo fresco e orgânico.

Como funciona

  • Na produção sintrópica, a árvore é decisiva na produtividade recuperação do solo.
  • A regeneração segue a lógica de nutrir a plantação com biomassa da poda das árvores do próprio terreno.
  • Papel do agricultor: O produtor é um dispersor de sementes, encaminhador e catalizador de processos favoráveis ao macroorganismo.
  • Perfil dos produtores: A maioria dos agrofloresteiros são pequenos e médios, mas os grandes também estão começando a se interessar pelo conceito.
  • Interesse crescente: A Agenda Götsch é a entidade que dissemina o conhecimento do suíço Ernst Götsch.

Saúde pela boca

Um dos associados e motivadores do Horta Alegre é o consultor de negócios Eduardo Tremarim que, a partir de um problema de saúde em 2014, buscou entender sobre como os alimentos chegavam a sua mesa. O primeiro passo foi buscar um local para produzir. Depois, ajudou a criar o sistema onde o consumidor compromete-se com o trabalho do agricultor a longo prazo, inspirado no CSA:

– Os associados devem permanecer, pelo menos, cinco meses, que é o tempo dos ciclos. É um meio inovador que envolve saúde, praticidade, consciência e logística.

O contato com a agricultura sintrópica trouxe para Tremarim novidades que ele aplica na horta do apartamento onde mora, no bairro Bela Vista, e na casa da família, em Nova Prata.

– Entendo que a sintropia é a tentativa de usar a natureza como proteção. Em vez de brigar com a formiga, que ataca a alface, você alimenta ela com outra planta de modo que ela deixe suas alfaces em paz – brinca.

Manejo integrado de pragas e diversificação de variedades fazem o controle fitossanitário. A prática segue o que ensina o idealizador Ernst Götsch: “não existe praga, existem espécies com funções distintas”. O nível máximo de interação entre o agricultor e o meio é que determinará o grau da prosperidade do ecossistema.

Manejo integrado de pragas faz a diferença na produção

Manejo integrado de pragas e diversidade de variedades fazem o controle fitossanitário. A prática segue o que ensina o idealizador Ernst Götsch: “não existe praga, existem espécies com funções distintas”. O nível máximo de interação entre o agricultor e o meio é que determinará o grau da prosperidade do ecossistema.

É o que acontece na propriedade de Iara Dutra, agricultora de Santiago, na Região Central. Ela investe tempo conhecendo e administrando cada tipo de planta que aparece na terra, por acreditar que esse manejo faz toda a diferença na qualidade do produto:

– Você precisa interagir, conhecer, saber as causas de algum desequilíbrio que exista na produção. Tem de criar condições diferenciadas para driblar a falta ou excesso de água, por exemplo.

A produtora acredita que a fruticultura trabalhada de forma integrada com a floresta garante mais sanidade para a lavoura e para o agricultor.

Fonte: Zero Hora