Promover uma agricultura mais sustentável. Esse é um dos objetivos do curso de Agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). Desenvolvido no campus Restinga da instituição, a graduação estará disponível a partir do primeiro semestre de 2025 e surgiu de uma demanda dos próprios estudantes.
A Agroecologia já é lecionada como um curso técnico no IFRS desde 2017, mas a grande oferta de temas de estudo fez com que os alunos quisessem um maior aprofundamento na área;
— Nós vimos que os estudantes que faziam o técnico almejavam fazer o superior na área, pois queriam aprender mais assuntos relacionados à agroecologia. A demanda, então, foi surgindo aos poucos — descreve Jovani Zalamena, futuro coordenador do curso.
O curso, que terá 15% da carga horária desenvolvida por meio da Educação à Distância (EAD), será composto por seis semestres, que correspondem a três anos de graduação. As disciplinas trarão uma perspectiva de cuidado ao meio ambiente no cotidiano da agricultura, como no plantio de produtos sem agrotóxico, na criação de hortas comunitárias e no desenvolvimento da compostagem, por exemplo. Jovani ainda destaca que os temas que serão discutidos em sala de aula serão multidisciplinares, o que contribui para a construção de um profissional mais qualificado:
— Terão aquelas disciplinas voltadas à informática básica, biologia dos organismos, matemática para agroecologia, comunicação e expressão aplicados à agroecologia. Então, não é só agroecologia no sistema de produção, são várias disciplinas que vão auxiliar.
Extensão
Um dos diferenciais do curso é a contribuição com a comunidade. Com uma alta carga horária de extensão, os alunos terão que realizar projetos externos para finalizar os estudos.
— O plano é que, no final do curso, eles implementem algo e criem um produto final, como uma horta comunitária — exemplifica Jovani.
E, para o coordenador, encontrar espaços com maior vulnerabilidade socioeconômica para atuar, tanto na graduação, quanto depois de formados, como na própria Restinga, é uma forma de contribuir ativamente para o desenvolvimento da comunidade:
— Muitos dos estudantes vão ser do entorno do bairro e podem ajudar a fortalecer as famílias. Muitas delas têm um pequeno terreno e vão começar a aprender na teoria e na prática como produzir seu próprio alimento. E isso é muito importante em uma comunidade periférica.
Somado a isso, além da extensão, o coordenador explica que, desde 2018, estão sendo feitos investimentos na infraestrutura do campus, para que as aulas sejam cada vez mais práticas e proveitosas:
— Estamos preocupados em criar espaços de educação no campus, de inclusão, para possibilitar espaços de aulas práticas, como estufas, hortas, locais para criação de abelhas sem ferrão, laboratórios e pomares.
Do lazer à profissão
A artesã Jussara Elisabete Farias, 65 anos, sempre gostou de plantar, mas com o curso técnico de Agroecologia aprendeu a aperfeiçoar esse hobby. Depois de finalizar seu Ensino Médio, por meio do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), iniciou os estudos e se apaixonou pela área. Agora, está inscrita no processo seletivo do curso de graduação para continuar sua jornada no ramo de agricultura sustentável.
— Quando eu entrei, eu até me assustei, porque gostei demais do curso técnico. Agora quero a faculdade. Para isso, terei que fazer a prova, mas vai valer a pena todo o sacrifício e a luta — relata Jussara.
Entre as atividades do curso técnico que mais agradaram a artesã está a criação de hortas comunitárias em escolas em áreas de vulnerabilidade socioeconômica. Para ela, um dos seus objetivos com o curso é passar o conhecimento que adquire no IFRS para as comunidades, ensinando a importância do cuidado com a natureza:
— Nós vamos lá e ensinamos as crianças, ajudamos elas a plantar. Eu adoro essa troca. Em casa, eu planto bastante coisa e passo adiante, até pra manter a natureza viva, que é o que eu mais gosto.
De volta à sala de aula
O estudante Cleberson Silva Baumgarten, 29 anos, viu no curso de Agroecologia uma oportunidade de retomar seus estudos. Diferentemente de Jussara, a única relação que tinha com as plantas eram algumas mudas cuidadas por sua mãe. Assim, pôde utilizar o conhecimento adquirido na sala de aula para expandir seus horizontes sobre qual graduação seguir. Cleberson é bolsista no IFRS e, no seu projeto de pesquisa, está criando uma semeadeira, para agilizar o processo de construção de mudas. Além disso, está inscrito no processo seletivo da graduação em Agroecologia.
— Estamos estudando para trabalhar na área. Então, tivemos aulas e práticas sobre solos, técnicas de cultivo e maneiras de fazer as podas corretamente, por exemplo. Ainda aprendemos a utilizar bioinsumos no combate de pragas e a fazer compostagem — diz o estudante.
Com os aprendizados adquiridos, Cleberson também transformou sua rotina dentro de casa. Para ter um cotidiano mais sustentável, o estudante começou a prestar mais atenção no descarte dos seus resíduos, o que o fez perceber como a Agroecologia contribui para a preservação da natureza.
— Eu comecei a fazer a separação do lixo, o orgânico eu junto e levo no campus para fazer a compostagem e tento também fazer a reciclagem de materiais que iriam pro lixo normalmente. A Agroecologia nos ensina a sermos mais conscientes no cuidado que temos que ter com o nosso planeta — finaliza Cleberson.